Bela, recatada e do lar. Podemos usar essa expressão dos dias de hoje para definir uma personagem de 140 anos atrás, Lúcia, a figura central de Uma vítima, livro de Maria Benedita Câmara Bormann, conhecida pelo pseudônimo Délia.
O romance, porém, desenvolve-se sobre um engenhoso jogo de aparências, e logo descobriremos que o comportamento da jovem vai muito além de uma graciosidade inocente. Lúcia toma distância da mãe, que sempre a tratou com frieza, e infla as ambições políticas do pai, de quem é muito próxima.
Não faltam surpresas neste ambiente familiar da alta burguesia carioca dos anos 1880, cuidadosamente construído pela autora.
Uma vítima pode servir como introdução à obra dessa romancista, que teve reconhecimento modesto no período em que atuou e mesmo hoje se mantém quase como um segredo para poucos. A literatura de Délia merece ser conhecida e celebrada.