Projetar futuros fluidos dentro do espaço digital; esse espaço que nos permite ser o que quisermos, modelar nossa própria «narrativa e mudança de forma». É nessa categoria que se move Legacy Russell, curadora e escritora nova-iorquina, que concebe o ciberespaço como uma sala em expansão, na qual a identidade é livre para vagar, ampliar-se e explorar, rejuvenescer e morrer, ser mulher e homem, libertando-se de um binarismo de gênero demasiado restritivo e opressor. E tudo isso por meio de uma falha, um erro no sistema que é justamente o glitch: Russell faz dessa disfunção tecnológica, dessa anomalia, um movimento de libertação que nos permite romper com os limites de gênero, raça e identidade sexual que agem no mundo como categorias e demarcações rígidas. Esse «algo deu errado» torna-se o ponto de partida de seu manifesto feminista anticorpo: «No feminismo glitch, o glitch é celebrado como um veículo de recusa, uma estratégia de não performance. Esse glitch visa tornar novamente abstrato aquilo que foi forçado a um material desconfortável e mal definido: o corpo». Russell abre uma nova página do ciberfeminismo costurando crítica de arte, livro de memórias e teoria feminista: como esse glitch afeta o mundo e o transforma?