A música é uma das obras filosóficas de Santo Agostinho anteriores a sua ordenação sacerdotal. Trata-se de uma abordagem fenomenológica da música e, na esteira dos clássicos gregos, afronta questões importantes do pensamento agostiniano, como a natureza da particularidade, da conexão, do movimento e do tempo. Composta na forma de diálogo entre mestre e discípulo, a obra tem origem logo depois de sua conversão, quando, ainda em Milão, idealizou um projeto mais amplo de uma série de tratados sobre as artes liberais, consideradas necessárias para a elevação das coisas sensíveis às inteligíveis. Mas tal projeto, que tem no De musica sua maior expressão, não foi além dos esboços iniciais. Mesmo assim, a obra testemunha significativamente o desenvolvimento intelectual de Agostinho e seu progresso da educação secular à filosofia cristã. A música consta de duas partes, das quais a primeira, correspondente aos cinco primeiros livros, trata, respectivamente, 1) dos fundamentos matemáticos da ciência musical, 2) dos pés, 3) dos ritmos, 4) dos metros e 5) dos versos, enquanto a segunda e última, contida no livro sexto, parte da análise de nossa percepção auditiva para considerar as seis espécies de números que medeiam entre as coisas sensíveis e as inteligíveis.