Alberto da Costa e Silva, Evaldo Cabral de Mello e José Murilo de Carvalho são historiadores de ofício, carreira e vocação, que criaram obras fundamentais para entender o país, a partir de abordagens bastante distintas entre si. Como mostram Lilia Schwarcz e Heloisa Starling - elas mesmas referências na área da historiografia brasileira - com diferentes trajetórias, formações, objetos e campos de análise, esses três pensadores mantêm, no entanto, um ponto comum, inteligível: o Brasil não é um só.
É nesse prisma diverso, mas em diálogo, que o livro apresenta, a partir de ensaios, entrevistas, cronologias e bibliografias completas, um panorama crítico das atuações, pesquisas e ideias desses três humanistas, referências incontornáveis para compreendermos o Brasil, suas histórias e o nosso próprio tempo. Alberto da Costa e Silva - além de historiador e diplomata, também poeta, memorialista e crítico de arte - demonstra, de forma premonitória, a impossibilidade de se entender o Brasil sem recorrer à África; e nos apresenta a riqueza do continente negro, de onde se origina mais da metade de nossos ancestrais. Evaldo Cabral de Mello, por sua vez, vem consolidando, desde os anos 1970, uma consistente obra sobre o Brasil colonial, tendo em foco o Nordeste canavieiro, em especial a Zona da Mata pernambucana, lugar onde nasceu. Apoiado nessa perspectiva e em pesquisas impecáveis, o historiador vem oferecendo uma série de interpretações inovadoras sobre o país. Já José Murilo de Carvalho, munido de sólida formação também no campo da ciência política, interroga o Brasil a partir da formação do Estado e do governo para entender a sociedade e o povo brasileiros. O início da República é, para ele, uma escolha estratégica: o ponto de partida para compreender as origens da fragilidade do fundamento democrático entre nós e o início do longo e conturbado caminho da construção da cidadania no país. Como se verá, a História do Brasil se abre em muitas leituras e reflexões por meio da obra desses três notáveis intelectuais.
Na observação atenta das organizadoras, a História pode ser também um lugar de abrigo. "De uma maneira ou de outra, o Brasil é o objeto, horizonte e destino, mesmo que a obra de cada um passe ao largo de qualquer sentimento eufórico, utópico, otimista ou nacionalista. Insistem, contudo, que existe uma comunidade (mais alargada) de imaginação a que chamamos Brasil e que ela pode eventualmente fornecer a cada um de nós a sombra de um refúgio. Pensando bem, não é pouca coisa. Vale à pena, leitor, conhecer de perto esses três pensadores, que já viraram personagens brasileiros e do Brasil."